Revista invi Nº 56, Mayo 2006, Volumen 21: 42 a 54

HABITAÇAO SOCIAL NO MEIO ACADÊMICO: RETOMANDO A TEMÁTICA


Juan José Mascaró, Rosa Maria Locatelli Kalil, Adriana Gelpi, Andréia Saúgo, Rosangela Comin
Dic/2005


Este trabalho aborda a realidade da produção habitacional do interior do estado do Rio Grande do Sul, tomada como fundamentação e contexto para o desenvolvimento dos trabalhos acadêmicos. A seguir, apresenta as diretrizes metodológicas utilizadas nos processos pedagógicos e de investigação, bem os resultados preliminares dessa abordagem nos cursos de arquitetura e urbanismo e de engenharia em Passo Fundo. Os primeiros projetos acadêmicos desenvolvidos procuram levar o aluno mais perto da realidade e do contexto local, por meio de: diagnósticos de favelas e vilas a serem reassentadas, conhecimento dos futuros usuários de programas públicos e privados, comparativos entre a infra-estrutura urbana existente e a necessária nas áreas previstas para implantação de núcleos habitacionais, dentre outras atividades preparatórias para o desenvolvimento de projetos arquitetônicos e urbanísticos. Na continuidade, devem ser incorporados aos conteúdos ministrados nos cursos o uso e desenvolvimento de tecnologias construtivas alternativas, bem como a viabilização de normas e legislações condizentes com esse enfoque.
Conclui-se que esta é uma forma de fazer com que o aluno e os cursos saiam dos ateliês e interajam com a realidade e a dureza do tema, mas também se capacitem para a prática profissional no campo de trabalho existente, que tem seu potencial econômico agregado ao resultado social.

Palavras-chave: habitação social, formação acadêmica e profissional, qualidade de projeto habitacional, produção habitacional.

This study deals with the reality of the housing production within the State of Rio Grande do Sul as the basis and the context for the development of academic papers. Afterwards, it presents the
methodological directives used in the pedagogical and investigational processes as well as the preliminary results of this approach in the architecture, urbanism and engineering courses in Passo Fundo. The first academic developed projects seek to approximate the student to the reality and the local context by means of the diagnosis of the slums and suburbs to be resettled, knowledge of the further users of the public and private programs, comparatives between the existing urban infra-structure and the essential in the anticipated areas for the implantation of housing centers, among other preparatory activities for the development of architectonic and urban projects. Next, the teaching subjects which ought to be incorporated in the course are the use and the development of alternative constructive technologies as well as the viability of the norms and the legislation suitable to this approach.
It can be concluded that this is a manner to make the student and the courses leave their studios and interact with their reality and difficulties of the theme, and, at the same time, become capable to develop the professional practice in the existing working field, having its economical potential aggregated to the social outcomes.

Key words: social housing, academic and professional programs, quality of housing design, housing production.


BREVE HISTÓRICO

Na década de 1950 e, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os governos – sem diferença de sistemas político ou de diferenças econômicas – ampliaram suas funções no campo habitacional, o que foi simplesmente a continuação de uma tendência histórica. Esta situação, facilitando inovações em determinados setores sociais, animouos governos e povos a assumirem a criação de um mundo melhor e generalizando, desta forma, o discurso do bem estar em todos os países da Europa Ocidental e América Latina.
Sob esta orientação precisa desenvolveramse as propostas habitacionais da época.
Mas foi na década de 1960 que as políticas habitacionais propriamente ditas se generalizaram como canal de intervenção do Estado. E foi nessa década que a indústria da construção se expandiu rapidamente em todo o mundo, entre outras razões, para acompanhar o grande crescimento dos centros urbanos. Foram modificados o valor e a natureza dos subsídios estatais em ambos
os continentes. O setor privado (subsidiado ou não) foi responsável pela maior parte das construções nesses anos, ao passo que as administrações públicas (incluindo as cooperativas e associações) construíram mais do que a terça parte das novas habitações (MASCARÓ, 1995).
A recessão econômica que começou com a crise do petróleo em 1973, alcançou duramente o setor da construção, particularmente o subsetor da construção de habitações. A diminuição da demanda, o
aumento do custo dos materiais de construção e as maiores taxas de juros contribuíram para uma diminuição significativa da construção anual de habitações, tanto na Europa quanto
na América Latina, com a lógica conseqüência sobre o emprego e a atividade econômica em geral. Do ponto de vista teórico, os zoneamentos rígidos, sacramentados pelo CIAM, dominaram o pensamento urbanístico da década de 1950 em diante: cidades universitárias, distritos industriais, grandes conjuntos habitacionais, áreas residenciais exclusivas, centros administrativos. As «depurações» da legislação urbanística progressivamente foram fechando as possibilidades do uso de morfologias tradicionais (o lote, a edificação contínua de baixa altura e a alta densidade, o pátio, o centro do quarteirão, o bairro). Acusadas de anacrônicas, não foram aplicadas a essas soluções alternativas de desenho que as fizeram evoluir, sem romper obrigatoriamente com a tradição. Ao contrário, as leis tendiam cada vez mais a aprofundar o corte e a limitar os projetos de uso do solo urbano aos padrões: torres e blocos soltos sobre uma base contínua de jardins: a edificação isolada em um grande lote fechado, onde a taxa de ocupação deveria ser baixa. Propostas de modernidade que tendiam a anular por completo as formas do passado.
As políticas de habitações do pósguerra foram essencialmente quantitativas, mais discursos idealista-funcionalistas do que ações. Esta situação se manteve até o momento da concentração de capital no setor imobiliário na década de 1960 que, ironicamente, coincide com o último período de credibilidade no tema tal como proposto: construção em massa de habitações na periferia urbana.
Na mística de determinadas políticas, as habitações passaram a ser, desde a década de 1930, o grande tema, a partir da herança dos pré-supostos teóricos elaborados em 1920 e 1940 pelo Movimento Moderno e da experiência de exemplos resgatados de cidades como Berlin e Viena para modelos de política de habitações. O discurso oficial da arquitetura e do urbanismo – base teórica das políticas habitacionais – foi bastante monolítico, ao menos até a década de 1960, quando se quebrou juntamente com os planos de habitações e suas formas mais representativas: os conjuntos residenciais de baixo custo (FINEP, 1983). Prevaleceu, até então, o dogma funcionalista de que a forma da arquitetura era uma variável independente (e somente poderia ser analisada através dos processos sociais que o serviam de suporte) acompanhado de perigosas alienações do «estilo internacional» e da prática urbanística racional, comprometida com o desenvolvimento e o progresso.
O racionalismo modernista transformou o espaço em descontinuidade e fragmentação, falta de conforto e insegurança, preferindo destacar os edifícios urbanos como figuras sobre um fundo ambíguo, como bem exemplifica imagem dos principais produtos das políticas mais representativas da época.
Em determinados períodos, as políticas de habitações se transformaram em um fim para si mesmas, meios de satisfação de objetivos políticos econômicos, mais que sociais. Protegidos, justamente, na pobreza de seus destinatários, produziram construções de baixo custo, baratas e não econômicas, repetitivas e monótonas, sem cuidado com a habitabilidade. Se algum questionamento foi feito, centrou-se nos aspectos urbanísticos e não nos arquitetônicos, talvez por que na década de 1960 a cidade era o novo paradigma (GITAHY e PEREIRA,2002).
O fato de que não se definiam as técnicas, os meios e os materiais necessários para alcançar os ambíguos fins da legislação brasileira pode explicar-se com base na filosofia contida na própria normativa de maneira implícita, que expressava a confiança do Estado no bom juízo de arquitetos e peritos para adotar a estratégia a seguir em cada caso, ou seja: os sistemas e detalhes de construção que deveriam ser escolhidos entre os mais convenientes dentro da economia. A situação criada dentro de uma legislação articulada à base de princípios gerais imprecisamente definidos e importantes omissões (como é a falta de qualquer exigência normativa para as coberturas) traz como resultado, entre outros, a afirmação do uso dos sistemas construtivos tradicionais, pois os projetistas e construtores pensavam que era o método mais confiável do ponto de vista tanto da solidez e da durabilidade da edificação como do rendimento da (enorme e desqualificada) mão de obra disponível para a execução das obras. A criação do Banco Nacional de Habitação, BNH, na década de 1960, impôs o critério do «barato» sobre o «econômico», diminuiu a qualidade da construção, aumentando espetacularmente a quantidade de habitações produzidas, cada vez mais em condições precárias, muitas vezes sem entender a legislação técnica vigente (MASCARÓ, 1995).
Não é difícil aceitar estas informações imaginando um panorama configurado pela escassez de materiais básicos de construção, a precariedade das máquinas e meios auxiliares empenhados, o baixo nível de industrialização do setor e a abundância de mão de obra não qualificada adquirida ali mesmo. «A grandes rasgos», este poderia ser o perfil tecnológico da edificação nas décadas de 1950 e 1960. Mas, ainda assim não é possível justificar a ausência dos aspectos ambientais da habitação na legislação técnica brasileira, principalmente os relacionados com o desempenho térmico de coberturas e, em outros elementos de definição da habitabilidade na edificação.
O tema da habitação social no ensino e na pesquisa foi tratado com ênfase nas décadas de 1960 e 1970, período em que as políticas habitacionais brasileiras oportunizaram investimentos maciços em grandes programas. Na década de 1980, com a derrocada do Sistema Financeiro da Habitação e a extinção do BNH, o volume de obras foi declinando até uma inércia em muitos estados, fazendo com houvesse uma espécie de dormência no tema, especialmente nas instituições de ensino superior. (KALIL, 2001, 2004)
A partir da década de 1990, houve uma retomada dos programas habitacionais, focados na gestão estadual e municipal, com busca de atendimento às demandas dos grupos e movimentos sociais e de uma qualidade arquitetônica para a habitação social (BONDUKI, 1992, 1998, WERNA, 2001). Contudo, percebe-se que os conjuntos habitacionais mais recentes implantados no estado do Rio Grande do Sul apresentam baixa qualidade arquitetônica (construtiva e ambiental) e qualidade urbana mínima que, embora justificadas pela falta de recursos do poder público estadual e municipal, na maioria dos casos prioriza a quantidade de unidades sobre a qualidade da habitação e do hábitat (MASCARÓ, 2002).

ÂMBITO ACADÊMICO: RETOMANDO O ESTUDO DO TEMA

Nessa retomada de programas com projetos realizados por profissionais locais, diferentemente dos megaprojetos centralizados nos gabinetes de setores públicos federal e estadual nas décadas
anteriores, ocorre demanda por arquitetos urbanistas qualificados. O papel da universidade como formadora de profissionais para a área da habitação de interesse social
retoma, pois, a temática tanto no âmbito do ensino de graduação e pós-graduação, quanto na produção científica.
O tema da habitação de interesse social (HIS) tem sido desenvolvido no curso de Arquitetura e Urbanismo da UPF, Passo Fundo, RS, Brasil, desde o seu início em 1995. Se inicialmente, de forma mais dispersa nas disciplinas de projeto urbano, gradualmente vem sendo aplicado de forma mais sistemática, despertando interesse em professores e alunos.
Tal iniciativa tem sido apoiada pelo surgimento de investigação científica acerca da habitação social na cidade e região de Passo Fundo, tanto resgatando o processo histórico de atendimento à demanda habitacional urbana pela população de baixa renda, como avaliação de aspectos urbanísticos e projetuais.
Entende-se que a investigação científica sobre a produção da habitação social em Passo Fundo, tem servido de embasamento para a proposição de alternativas habitacionais mais adequadas ao
usuário, centro do processo, e contribuído para a formação de profissionais arquitetos urbanistas que tenham como meta a qualidade da moradia e a melhoria de sua qualidade de vida e conquista da cidadania no meio urbano.

No ensino de graduação

A disciplina de Projeto Urbano II que se encontra no VII semestre dentro da grade curricular do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade de Passo Fundo, tem como tema a requalificação de bairro de classe média baixa que se encontra dentro da área urbana de Passo Fundo, inserida no bairro denominado Petrópolis.
A disciplina tem por objetivo principal a dinamização deste espaço. Os docentes propuseram para os alunos como diretrizes de projeto a sustentabilidade, inserção social e geração de renda. Os alunos usaram como uma das estratégias de intervenção no seu exercício, a criação de áreas comerciais mais próximas do bairro e inclusão de habitações de interesse social, assim como áreas de lazer e escolas para atender a população local.
O exercício acaba sendo enriquecido ainda, com uma ampla interdisciplinaridade especialmente com a disciplina de Projeto Arquitetônico VII, em que é desenvolvido o tema de conjunto habitacional de interesse social.
Além disso, são desenvolvidas atividades interdisciplinares e complementares, como por exemplo, assessorias com professores da área de estruturas, palestras com professores de paisagismo e profissionais da prefeitura responsáveis pela implantação dos projetos da habitação social na cidade de Passo Fundo. A disciplina se caracteriza por ter um forte cunho social, propondo como objeto de estudo uma situação real em um bairro dentro do cinturão de expansão urbana da cidade de Passo Fundo. Desenvolvemse diagnósticos de favelas e vilas a serem reassentadas, conhecimento dos futuros usuários de programas públicos e privados, comparativos entre a infra-estrutura urbana existente e a necessária nas áreas previstas para implantação de núcleos habitacionais, dentre outras atividades preparatórias para o desenvolvimento de projetos arquitetônicos e urbanísticos. Na continuidade, devem ser incorporados aos conteúdos ministrados nos cursos o uso e desenvolvimento de tecnologias construtivas alternativas, bem como a viabilização de normas e legislações condizentes com esse enfoque.
O aluno é instrumentado com ferramentas e instrumentos de intervenção que devem atender e viabilizar soluções plausíveis, para os problemas detectados nos diagnósticos feitos pelos próprios alunos no início do exercício. Os alunos mostram interesse e envolvimento pelo tema, com um resultado superior ao previsto pelos professores da disciplina. Isto demonstra a adequação à inserção do tema no currículo do curso. (Fig. 1, 2, 3)

No ensino de pós-graduação

Em nível de pós-graduação stricto sensu, o tema da habitação de interesse social é abordado no curso de Mestrado em Engenharia: infra-estrutura e meio ambiente, iniciado em 2003. Envolvendo disciplinas regulares e pesquisas de docentes e alunos, contempla a questão da produção do  território, infra-estrutura e urbanização de áreas, inclusive para habitação de interesse social. Urbanização de áreas residenciais.


Fig. 1 - Projeto Arquitetônico VII, 2005. Fonte: autores.
Fig. 2 - Projeto Arquitetônico VII, 2005. Fonte: autores.
Fig. 3 – Trabalho realizado pelos alunos da disciplina de Projeto Urbano II. Fonte: autores.

Aspectos ambientais e de infraestrutura.

A disciplina integra a linha de pesquisa Urbanização e Infra-estrutura. Aborda a especificidade da questão habitacional pela sua importância e predominância no uso do solo urbano na constituição dos
assentamentos humanos. Para tal enfoca o tema sob três aspectos: (a) as políticas e os programas habitacionais, sua evolução no Brasil e na região e os resultados e perspectivas em termos de alternativas de promoção, tipologias urbanísticas e habitacionais; (b) os aspectos sociais, econômicos, tecnológicos e ambientais da implantação de assentamentos habitacionais, e sua articulação com as culturas e os costumes locais. (c) a infraestrutura urbana dos conjuntos e núcleos habitacionais, nos aspectos relativos ao sistema viário, redes de energia elétrica e de comunicação, abastecimento de água, rede de esgoto e saneamento, rede verde e serviços urbanos. A partir dos aspectos teóricos, são realizados diagnósticos urbanísticos de conjuntos habitacionais na região, nos seus diversos aspectos, para embasar propostas de intervenção com vistas à qualidade urbanística, habitacional e ambiental. (Fig. 4, 5, 6 e 7 )


Fig. 4 - Trabalho desenvolvido pelos alunos de mestrado, 2004. Fonte: autores



Fig. 5 - Trabalho desenvolvido pelos alunos de mestrado, 2004. Fonte: autores


Ocupação do Território e Infra-estrutura

A disciplina busca fundamentar a linha de pesquisa Urbanização e infra-estrutura. Para tal, aborda as questões referentes ao processo de construção do território em termos da evolução da ocupação do território, urbanização e relação ambiente natural e ambiente construído. Enfoca especialmente a região sul do Brasil, com ênfase na região norte do estado do Rio Grande do Sul. Além disso, são abordados conteúdos de planejamento e da gestão territorial e urbana, no espaço regional e municipal, tendo como princípio o desenvolvimento sustentado no contexto da contemporaneidade, de forma articulada com a atuação de urbanistas, engenheiros e outros profissionais da área da infra-estrutura e do meio ambiente.

PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA

Artigos em congressos

Existe a preocupação e, por que não, uma paixão pelo tema por parte dos professores pós-graduados do curso. Tal preocupação se reflete na produção de inúmeros artigos científicos publicados em congressos nacionais e internacionais de renome.

As pesquisas financiadas por órgãos nacionais e estaduais de fomento à pesquisa (Fapergs, CNPQ) têm gerado trabalhos dedicados fundamentalmente à procura por soluções alternativas para a melhoria da qualidade das habitações sociais de baixo custo e a minimização dos custos de execução.  Os trabalhos são publicados em congressos importantes, de âmbito nacional e internacional, como NUTAU, PLEA, ULACAV, Ibérico de Energia Solar, entre outros.

Livros, capítulos e artigos científicos sobre o tema

As publicações científicas produzidas pelos docentes em conjunto com alunos de graduação e pós-graduação retomam a temática no contexto da produção habitacional regional e local contemporânea, gerando subsídios para a instrumentalização da formação e capacitação dos profissionais de arquitetura e urbanismo e para a definição de políticas e programas públicos e privados. Como livros publicados sobre o tema pelo professor Juan Jose Mascaró do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Passo Fundo temos:
- Habitação Social para o Planalto Médio Central do Rio Grande do Sul;
- Infra-estrutura alternativa para Habitação Social. O primeiro enfoca aspectos sócioeconômicos e tecnológicos da produção de habitações sociais. Faz um diagnóstico da situação das políticas habitacionais e os assentamentos irregulares da região do Planalto Médio Central do Rio Grande do Sul.
Enfoca uma proposta de uso dos esgotos abertos e da ocupação do lote. Além disso, traz uma proposta de unidade habitacional adequada ao usuário e ao clima da região, visando uma otimização do espaço e a minimização dos custos. O segundo livro trata da infra-estrutura urbana alternativa, desenvolvendo soluções de baixo custo para cada uma das redes, objetivando demonstrar seu uso adequado e eficiente do ponto de vista técnico e social.
Também publicações de capítulos de livros e artigos de periódicos indexados contemplam a temática da HIS, abordando questões sobre as modalidades de provisão tipo cooperativas e mutirão habitacional, especialmente no contexto gaúcho, como é o caso da professora Rosa Maria Locatelli Kalil e de seus alunos de mestrado:
- Direitos humanos e moradia em Passo Fundo: uma experiência autogestionária.
- Avaliação pós-ocupação e eficácia social: estudo de caso comparativo de habitações de interesse social autoconstruídas na modalidade cooperativa autogestionária e na modalidade promoção pública municipal.
- Cooperativas habitacionais e capacitação profissional.
Os textos relatam pesquisas desenvolvidas em experiências habitacionais regionais, resultando em avaliações de programas públicos e nãogovernamentais e reforçando a necessidade de implantar projetos qualificados, visando à oferta de moradia digna às populações carentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conclusão principal deste trabalho é que a negligência com a habitabilidade, a falta de economia, a inadequação da tipologia adotada, a pobreza formal, a impossibilidade de que os usuários resolvam erros de projeto e construção através do uso de energia, enfim, um conjunto de situações adversas verificadas, não decorrem somente das políticas adotadas para a habitação, incluindo a legislação técnica correspondente. Também resultam do generalizado desconhecimento das condicionantes climáticas por parte dos projetistas e do escasso prestígio do conforto natural, principalmente em climas complexos, cujas soluções energético-ambientais dificultam a adaptação das estratégias de projeto mais corretas.
As deficiências de habitabilidade e os desperdícios apontados podem ser vistos como o resultado de uma série de fatores combinados, que vão desde a incompreensão das potencialidades e limitações da capacidade edificativa do terreno até a complementação e interdependência entre o projeto arquitetônico e seu comportamento ambiental-energético.
Os conjuntos residenciais de baixo custo colocam em evidência uma crise do saber e do fazer arquitetônico. Pois seria discutível pensar que a crise se devia, fundamentalmente, a fatores sócio-políticos e legais, diante dos quais os arquitetos estariam completamente impotentes. Tudo isso pode parecer redundante, pouco inovador, mas foi essencial para alcançar os objetivos propostos: passar do discurso para a verificação das afirmações enunciadas inicialmente, da inversão do tema no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Passo Fundo e nas universidades brasileiras. No curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Passo Fundo a aceitação da temática por parte dos alunos foi imediata, refletindo-se na finalidade dos trabalhos desenvolvidos nas disciplinas de Projeto
Arquitetônico e Urbanismo. Não foi diferente no curso de Pós-Graduação entre os profissionais que cursaram as disciplinas que tratam do tema se engajaram rapidamente no estudo e pesquisa das soluções econômicas e construtivas viáveis para os principais problemas que imperam a décadas na produção da habitação social no Brasil.
A relevância dos projetos habitacionais contemporâneos exige competências e habilidades que parece não estarem presentes no perfil dos profissionais da área, mas cuja demanda cresce. Não se
trata de atender um cliente individual ou estatal, mas de atender muitos usuários, cujas expectativas e necessidades individuais e coletivas, estão além do desenho da habitação, estão no processo de gestão do ambiente habitacional, de acordo com recursos e expectativas. Ou seja, a formação do arquiteto urbanista no Brasil e na América Latina requer a ênfase na área da habitação social.

BIBLIOGRAFIA

BONDUKI, Nabil G. Origem da habitação social no Brasil. São Paulo: Estação Liberdade, 1998. 342 p.
FINEP. Habitação popular: inventário da ação governamental. Rio de Janeiro: Finep, 1983.
GITAHY, M. L. C. PEREIRA, P. C. X. O complexo industrial da construção e a habitação econômica moderna. São Carlos: Rima, 2002.
KALIL, Rosa Maria Locatelli. Participação e satisfação do usuário: alternativas de gestão de habitações sociais em Passo Fundo, RS. 2001. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.
_____. Direitos humanos e moradia em Passo Fundo: uma experiência autogestionária. In: Paulo César Carbonari. (Org.). Direitos Humanos desde Passo Fundo. 1 ed. Passo Fundo, 2004, v. , p. 63-86.
_____. Avaliação pós-ocupação e eficácia social: estudo de caso comparativo de habitações de interessse social autoconstruídas na modalidade cooperativa autogestionária e na modalidade promoção pública municipal. Ambiente construído, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 37-53, 2004.
MASCARÓ, Juan José. Infra-estrutura alternativa. Passo Fundo: UPF: FAPERGS, 2002. 171 p.
MASCARÓ, Juan José. Habitação popular para o planalto do Rio Grande do Sul: infraestrutura alternativa. Passo Fundo: Ediupf, 2002.
MASCARÓ, Juan José. Habitação popular para o planalto médio do Rio Grande do Sul. Passo Fundo. (1999) Passo Fundo: Universidade de Passo Fundo: FAPERGS, 1999, v.1. 182 p.
MASCARÓ, Juan José. Comportamiento ambiental en zonas de climas complejos de conjuntos residenciales de bajo coste. (1995). Tese (Doutorado em Arquitetura) – Universidad Politecnica de Catalunya, Barcelona, 1995.
MASCARÓ, Juan Luis. Desenho urbano e custos de urbanização. 2da ed. Porto Alegre: DCLuzzato,1989.
MASCARÓ, Juan Luis. Loteamentos urbanos. Porto Alegre:2003.
McCLUSKEY, J. El diseño en vias urbanas. Barcelona: Gustavo Gili, 1985.
MEZZOMO, Melissa. Vila São Lucas, integrando o Botafora. 2004. Trabalho Final de Graduação (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) – Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2004.
RUBIN, Juliana Linhares. Habitação social na região do Planalto Médio Gaúcho: avaliação pós-ocupação e recomendações para implantações futuras. 2004. Projeto de dissertação (Mestrado em Engenharia: Infraestrutura e meio ambiente) – Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2004.
SANTOS, Alessandra Gobbi. Provisão habitacional na modalidade de cooperativas habitacionais na região Nordeste do Rio Grande do Sul: diagnóstico organizacional e urbanístico. 2005. Dissertação (Mestrado em Engenharia: Infraestrutura e meio ambiente) – Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, 2005.
_____. Cooperativas habitacionais e capacitação profissional. En: Revista de Urbanismo, Nº12, Santiago de Chile, publicación electrónica editada por el Departamento de Urbanismo, F.A.U. de la Universidad de Chile, junio 2005, I.S.S.N. 0717-5051.
SERRA, J.M. Elementos urbanos. Barcelona: Gustavo Gili, 1996.
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO. Faculdade de Engenharia e Arquitetura. Curso de Arquitetura e Urbanismo. Projeto político pedagógico do curso de Arquitetura e Urbanismo. (2002) Passo Fundo.
WERNA, E. et al. Pluralismo na habitação. São Paulo: Annablume: Finep, 2001.